Aos 80 anos, o professor José Antonio Ramalho, da JR gestao, carrega uma bagagem que impressiona qualquer um: mais de 11 pós-graduações e MBAs, uma carreira consolidada em gestão pública e privada e uma paixão pelo aprendizado que não esmoreceu com o tempo. O segredo? Nunca se acomodar. Em uma entrevista inspiradora, ele compartilhou comigo como a busca pelo conhecimento se tornou o motor de sua vida e ofereceu reflexões valiosas sobre a importância da aprendizagem ao longo da vida.

“Não quero ser um espectador da própria história.”

Atualmente, Ramalho colabora como gestor da expansão da franquia RCrio Células-Tronco, cujos propósitos vão além da criopreservação ao fomentar práticas da medicina regenerativa no Brasil e contribuir para a institucionalização da terapia celular avançada na prática médica e odontológica.

E segue estudando: é aluno da pós-graduação de Gestão de Negócios da Saúde da Fundação Dom Cabral, participa do Conselho Consultivo da Sociedade Brasileira de Médicos Executivos (SOBRAMEX), do Conselho de Desenvolvimento do Ambiente de Negócios (CODAN), do Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e Empresa de Pequeno Porte (MEMP), além de Diretor de Gestão e Controle Organizacional da ASBRAF – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FRANQUEADOS (ASBRAF). Para ele, estar em constante evolução é a chave para se manter relevante em um mundo onde as mudanças são a única certeza. Mas como essa paixão começou?

De Fortaleza para o mundo: uma trajetória humanística

Nos anos 1960, o jovem Ramalho ingressou no Seminário da Prainha Arquidiocese de Fortaleza. Foi ali que entrou em contato com a literatura clássica, aprendendo latim e grego.

“Os poemas épicos, como Ilíada e Os Lusíadas, me mostraram como as narrativas são poderosas para explicar os impactos socioeconômicos das comunidades”, relembra.

Esse olhar humanista o levou, desde cedo, a se engajar em projetos de inclusão social, que o fizeram entender o potencial do conhecimento para transformar realidades.

A grande virada em sua carreira ocorreu nos anos 1970, quando atuou como gestor do SEBRAE no Programa Cidades de Porte Médio do BIRD do Conselho de Desenvolvimento Urbano do Ministério do Interior. “Viajamos por diversas regiões do Brasil, implantando uma matriz de governança que integra saúde, educação, transporte e inovação. Ali eu percebi: conhecimento aplicado é o diferencial para gerar impacto”, conta.

Com licenciatura plena em Pedagogia, em 1971, realizada no UniCEUB – Centro Universitário de Brasília, e pós-graduação em Administração Pública pela FGV EAESP, concluída em 1979, Ramalho admite que a internalização e aplicação dos conceitos apreendidos foram determinantes para a consolidação de sua trajetória profissional. Mas ele não parou por aí. Outras formações em áreas como Direito Médico, Métodos de Ensino e Desenvolvimento Organizacional enriqueceram sua trajetória.

Aprendizado contínuo

“Estamos em uma era de hiperconexão, onde as mudanças são intensas e constantes. Quem não busca atualização fica para trás”, diz o professor. Segundo ele, o profissional do futuro – o chamado lifelong learner – precisa ser inquieto, criativo e preparado para enfrentar cenários dinâmicos.

Ele também menciona uma de suas inspirações literárias: o livro “O Choque do Futuro”, de Alvin Toffler, escrito na década de 1960. “Toffler já previa a necessidade de adaptação em tempos de mudanças disruptivas. Se você não se adapta aos tempos atuais, dificilmente contribuirá para a sociedade. Quanto mais conhecimento agregado e práticas vivenciadas, maior será seu crescimento pessoal e profissional”, revela.

Quando questionado sobre a mentalidade de quem acredita já ter aprendido o suficiente, Ramalho é enfático: “É uma visão ultrapassada! A sociedade contemporânea exige pessoas empreendedoras, autônomas, com competências múltiplas, que saibam trabalhar em equipe e com capacidade de aprender e de se adaptar a situações novas e complexas.”

Por isso, ele defende o desenvolvimento de competências empreendedoras como estratégia chave para o crescimento organizacional em um processo de educação empreendedora que integra o desenvolvimento das dimensões humanas: Saber Conhecer, Saber Ser /Conviver e Saber Fazer – segundo ele, uma concepção pedagógica integrada do Sebrae, cuja estrutura se alicerça em fundamentos e princípios das teorias de aprendizagem Cognitivista, Humanista e Sociocrítica, representadas pelas dimensões:

Aprender a conhecer – é necessário tornar prazeroso o ato de compreender, descobrir, construir e reconstruir o conhecimento para que não seja efêmero, para que se mantenha ao longo do tempo e para que valorize a curiosidade, a autonomia e a atenção permanentemente. É preciso, também, pensar o novo, reconstruir o velho e reinventar o pensar.

Aprender a fazer – não basta preparar-se com cuidados para se inserir no setor do trabalho. A rápida evolução por que passam as profissões pede que o indivíduo esteja apto a enfrentar novas situações de emprego e a trabalhar em equipe, desenvolvendo espírito cooperativo e de humildade na reelaboração conceitual e nas trocas, valores necessários ao trabalho coletivo. Ter iniciativa e intuição, gostar de certa dose de risco, saber comunicar-se e resolver conflitos e ser flexível. Aprender a fazer envolve uma série de técnicas a serem trabalhadas

Aprender a ser/ conviver – é importante desenvolver sensibilidade, sentido ético e estético, responsabilidade pessoal, pensamento autônomo e crítico, imaginação, criatividade, iniciativa e crescimento integral da pessoa em relação à inteligência. A aprendizagem precisa ser integral, não negligenciando nenhuma das potencialidades de cada indivíduo.

No mundo atual, este é um importantíssimo aprendizado por ser valorizado quem aprende a viver com os outros, a compreendê-los, a desenvolver a percepção de interdependência, a administrar conflitos, a participar de projetos comuns, a ter prazer no esforço comum.

A entrevista com o professor José Antonio Ramalho não é apenas um relato de conclusões. É uma lição sobre resiliência, curiosidade e a importância do aprendizado contínuo, o lifelong learning, como estratégia para se manter atualizado e, no caso das empresas, como condição para um ambiente em que a inovação é a força motriz.

Escrito por Izabela Mioto

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